Sou enfermeira, pelo menos é o que diz o meu diploma...Trabalho como triadora de candidatos à doação de sangue no Hemocentro do estado do Rio de Janeiro. As pessoas portadoras de diversas doenças hematológicas precisam de sangue. Pessoas que sofrem acidentes precisam de sangue. Pessoas que se submetem à cirurgias precisam de sangue. Isso é um fato presente no nosso dia-a-dia, crianças, adolescentes, adultos e idosos espalhados pelos diversos hospitais...estão precisando de sangue. Ora, para que eles recebam o que precisam, faz-se necessário que alguém saudável, consciente, bom cidadão, se mobilize a ajudá-los. Doação de sangue é um ato voluntário, de acordo com a lei. Mas, o que vejo é que as pessoas parecem não ter exatamente essa consciência, do ato voluntário, altruísta e ajudador...Em geral, os que se dirigem aos bancos de sangue estão interessados em fazer exames de sangue ou ganhar o dia de trabalho. Peraí! Alguém falou em dia de trabalho? Ganhar? Não trabalhar? Como assim? Isso mesmo. A lei garante o direito ao cidadão trabalhador, um dia de trabalho se este doar seu precioso sangue. Ora Ora! QUE MARAVILHA! Muitos devem pensar...Por conta disto já ouvi diversas grosserias quando dos meus lábios saem as palavras: O senhor não vai poder doar hoje! Céus! A casa cai...Diversas foram as situações, mas, uma em especial contarei hoje...
Há umas 3 semanas, cheguei ao trabalho e me deparei com uns quase 40 homens aguardando o inicio do cadastramento para doação de sangue. Fiz todas as minhas atividades de costume e comecei a atendê-los, os 40 dobraram para 80, os 80 tornaram-se em 120...Jesus! Plena sexta-feira, depois de uma semana estressante tive que atender um monte de homens cheios de maus hábitos...Mas, o que chamo atenção aqui é o fato de que todos esses homens estavam juntos, todos de um mesmo local de trabalho, todos em protesto por melhores condições de trabalho, todos pedindo um salário digno, condizente com seus afazeres, o que eles eram? GARIS! Sim, os que limpam nossas ruas, carregam nosso lixo, eles são essenciais...eles merecem o que reivindicam. No entanto, nossos queridos limpadores resolveram fazer uma greve como forma de protesto e sabendo que não receberiam o abono da falta no trabalho, o que eles resolveram fazer???? Doar sangue! Ora, que ideia genial! Doar sangue para não receber falta! E por conta disto, meus amigos enfermeiros e eu, trabalhamos sem cessar durante quase 12h, atendendo homens, que em sua maioria não estavam aptos à doação, porque eles queriam ganhar o dia de trabalho. Isso é o nosso Brasil! Cheio de pessoas conscientes de seus deveres...
Ai, isso é Brasil: pessoas que fazem greve, mas não querem assumi-la, o que a torna descabida!!!
ResponderExcluirUma situação muito peculiar, não? Acredito que o gesto de doação é muito mais que simplesmente encher uma bolsa de sangue e focar numa "folga" ou em um dia de liberdade devidamente regulamentado. Liberdade, sim, pois é exatamente isso que engrandece uma gesto nobre e de muita humanidade- a sensação de liberdade- de fazer o bem e da fato praticar a caridade, o amor cristão... e ter, como disse você, amiga Lia, grande altruísmo em meio ao turbilhão de pensamentos acelerados vividos por nossa sociedade. No entanto, como verificar a aptidão das pessoas em doar sangue, especificamente, nesse sentido? É forte julgar e dizer o contrário em relação ao sentimento de alguém, à verdade presente no interior de cada ser; talvez, nunca seja possível desvendar isso e afirmar: você não é apto a doar - dentro dessa perspectiva, claro! Até porque a urgência é grande, necessita-se de sangue e este, não tem sentimento, é simplesmente a vida! Dessa forma, ainda que paradoxalmente, é exatamente o que torna lindo e superior à causas inúteis e supérfluas promovidas pelos "pseudo-doadores" e é exatamente essa verdade e transparência, com objetivos que concordem com o verdadeiro sentimento, que trazem a nobreza do gesto!
ResponderExcluirMinha ideia era vir aqui e comentar apenas isso:
ResponderExcluir"imagina se essa moda pega!"
Mas tem gente toda culta aí em cima com várias reflexões interessantes.. vergonha de mim.